Mas porque és contra que o Estado garanta a entrada para os jovens?

No dia 10 de julho o Governo anunciou a medida que irá garantir a entrada e viabilizar créditos habitação para jovens até os 35 anos. Podes ser contra ou podes ser a favor, mas não podes negar que isto terá consequências. Prever as consequências não será fácil, mas podemos fazer algumas reflexões importantes.   

O que a medida realmente significa?

A garantia pública, agora em fase de regulamentação, permite aos jovens até 35 anos obter um crédito habitação a 100%, o que significa que não precisam de pagar a tradicional entrada, geralmente exigida pelos bancos. Para muitos jovens, especialmente aqueles que não têm poupanças significativas, esta pode parecer uma excelente oportunidade para finalmente conseguir comprar casa.

O Problema da Procura e da Oferta

Contudo, é aqui que começamos a ver as primeiras falhas da medida. O mercado imobiliário em Portugal já enfrenta um problema crónico de falta de oferta, especialmente nas grandes cidades. O que esta medida faz é aumentar ainda mais a procura, sem resolver o problema estrutural da falta de novas construções ou de reabilitação de imóveis para habitação. O resultado? Mais competição por menos casas, o que pode levar a um aumento ainda maior dos preços, tornando a habitação ainda menos acessível a quem tem rendimentos mais baixos.

A realidade dos custos acrescidos

Outro ponto crucial é que, ao financiar 100% do valor da casa, as prestações mensais irão, inevitavelmente, ser mais elevadas. Isto significa que, para além do desafio de pagar por uma casa mais cara devido ao aumento da procura, os jovens também terão que enfrentar mensalidades mais pesadas. E como estas prestações não podem exceder uma taxa de esforço de 50% dos rendimentos mensais, muitos jovens com rendimentos mais baixos poderão ser excluídos desta medida, que teoricamente deveria beneficiá-los.

Quem paga a conta?

Vale lembrar que esta garantia pública é financiada pelo Estado, ou seja, pelos contribuintes. Numa altura em que se discute a sustentabilidade das finanças públicas e o aumento das despesas do Estado, esta medida levanta questões sobre a sua viabilidade e justiça. Afinal, todos os contribuintes estarão a financiar uma medida que beneficia apenas um nicho da população, e que pode não resolver o problema de base, que é a falta de oferta habitacional.

A importância da entrada e da avaliação de riscos

Tradicionalmente, o pagamento da entrada serve como uma primeira linha de defesa para os bancos e para o Banco de Portugal, garantindo que os compradores têm um mínimo de estabilidade financeira e diminuindo o risco de incumprimento. Ao eliminar este requisito, aumenta-se o risco tanto para os bancos quanto para os próprios jovens, que poderão encontrar-se em dificuldades financeiras caso as suas situações económicas mudem. Além disso, uma prestação mais elevada pode limitar a capacidade de poupança ou de gerir outras despesas essenciais.

Conclusão

Em resumo, enquanto a medida parece ser uma solução atrativa para os jovens que sonham com a casa própria, é necessário ter cautela e ponderar os seus impactos a longo prazo. Sem um aumento significativo da oferta de habitação, e com o aumento inevitável das prestações mensais, esta política pode acabar por beneficiar apenas uma pequena parte da população jovem, ao mesmo tempo que sobrecarrega os contribuintes e potencialmente inflaciona ainda mais o mercado imobiliário. Para muitos, a solução pode estar não em políticas que incentivam mais crédito, mas em estratégias que aumentem efetivamente a oferta de habitação e que tornem o mercado imobiliário mais acessível e sustentável para todos.

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